domingo, 3 de julho de 2011

História da psicoterapia I: Primórdios da Psicanálise

A partir desta semana, estamos reativando o blog, que terá postagens semanais.


Ele terá série de temas, ou artigos isolados.

Um dos temas que será tratado, será sobre a história da psicoterapia.

Acredito que este tema possa contribuir para o debate, pois os psicólogos tendem a não conhecer a história da psicoterapia, o que faz com que o debate e o diálogo entre nós fique empobrecido.

A psicoterapia contemporânea surge com a psicanálise freudiana.

Apesar dos psicanalistas preferirem o termo análise para designar sua técnica, incluo a psicanálise dentro das linhas psicoterápicas pois ela também é uma forma de tratamento psicológico.

Anteriormente ao surgimento da psicanálise, houve outras formas de tratamento psicológico, como a hipnose de Lieubault e Bernheim, mas o interesse sobre estas técnicas é hoje apenas histórico.

A psicanálise surge dentro de uma contexto social que se caracterizava pelo domínio da burguesia e de uma moralidade centrada na repressão rigorosa à expressão da sexualidade, a chamada moral vitoriana.

Esta repressão se dava de forma mais intensa ao gênero que historicamente tem menos poder, o feminino. Os homens, apesar de teoricamente terem que seguir esta moral, podiam, através de seu poder financeiro e socialmente estabelecido, escapar dela, geralmente levando uma vida dupla.

É sabido que um estado de repressão sexual intensa pode gerar patologias, sendo a histeria de conversão, patologia psíquica onde o paciente apresenta sintomas orgânicos sem comprovação da origem física dos mesmos, uma de suas possibilidades.

Durante a metade do século XIX, a histeria de conversão tomou dimensões epidêmicas. Charcot, neurologista, mestre de Freud, que tipificou cientificamente os sintomas desta patologia, chegou a dirigir uma enfermaria com centenas de histéricas, no Hospital Salpetrière, em Paris.

As histéricas, que acorriam aos consultórios médicos frequentemente, eram consideradas pacientes difíceis e incômodas, e não havia métodos positivos para a cura delas, sendo frequentemente enviadas para tratamentos paliativos como passar períodos em estações hidrominerais, por exemplo.

A hipnose foi empregada como tentativa de cura destes pacientes, já que Charcot havia demonstrado que podia causar sintomas histéricos por este método. O próprio Charcot achava que, apesar da hipnose poder criar sintomas histéricos, ela não seria capaz de removê-los. Mas outros, como Liébault e Bernheim achavam que sim, desenvolvendo terapêuticas através da hipnose para o tratamento destes pacientes.

Coube a um médico vienense, Josef Breuer, atender uma paciente histérica, Bertha Pappenheim, conhecida na história como a paciente Anna O, através da hipnose, com bons resultados terapêuticos, para que a história da psicanálise se iniciasse.

2 comentários:

  1. Ola Dr. Haroldo Sato

    Sou estudante de psicologia, estou no sexto período, minha orientação epistemológica é a psicanálise e tenho certo afeto pela psicologia social. Enfim, gostei do seu blog, decidi me "aventurar" no mundo das palavras e fiz um blog também. Gostaria de saber se poderia adicionar aqui sete parágrafos de um artigo que escrevi para a faculdade, é sobre o histórico da conceituação semântica das origens do termo "Psicologia Clinica".

    Segue, parte do artigo (sete parágrafos):

    Partindo de um referencial cronológico, no histórico do modelo clínico da psicologia, o neurologista francês Pierre Janet, em sua obra Neuroses e Ideias Fixas de 1887, mencionou a expressão "psicologia clínica", através do desenvolvimento de métodos clínicos para tratamento de doenças mentais.

    Na época, Janet trabalhava com Charcot no famoso hospital Salpêtrière em Paris, aonde fazia pesquisas num laboratório de psicologia experimental, conseqüentemente argumentou que a atuação clínica, em relação ao que pelo menos na época entendia-se por neuroses e histeria, deveria ser de direito do médico e não do psicólogo.

    A medicina do século XIX, definida por Foucault como anátomo-patológica, ou seja, que buscava a localização anatômica como fonte das doenças numa base de perspectiva experimental e científica, havia dominado a função do controle higiênico e social.

    O mérito todavia pela formulação semântica “Psicologia Clínica”, da maneira como é entendida hoje, é do psicólogo americano Lightner Witmer e data de 1896, o objetivo era uma dupla distinção em relação primeiramente ao que na época entendia-se por psicologia filosófica, ou ainda, uma psicologia não aplicada e de caráter puramente abstrativo, assim como evitar a tendência de se pensar numa psicologia médica, modelo anterior teorizado por Janet.

    Witmer foi o criador da primeira Clínica de Psicologia da história, enquanto instituição, e junto com outros psicólogos da época que se auto-denominavam “clínicos”, trabalhava com crianças que tinham problemas de aprendizagem, porém já nesse período, procurava-se evitar a tendência médica de um modelo de retardo mental, ou seja orgânico, referente a tais crianças.

    Interessante o fato de que mesmo naquela época Witmer almejava esclarecer que a área clínica tratava-se de um fazer da psicologia na prática, objetivando tratar e ajudar pessoas com problemas reais, para tanto, era necessário um certo afastamento ou neutralidade em relação ao saber médico vigente da época, no que se referia a patologias, ou seja, antes de seguir qualquer diagnóstico médico, era necessário um estudo da história subjetiva das crianças caracterizadas com déficit de aprendizagem, para então formular estratégias de auxilio ou psicoterápicas.

    Finalmente, chegamos a figura central da atuação clássica do que hoje conhecemos e entendemos por psicologia clínica e um de seus modelos práticos de atuação, a psicoterapia individual, Freud, que em 30 de Janeiro de 1899 utiliza o termo “psicologia clínica” numa carta a um grande amigo confidente chamado Wilhelm Fliess: “...agora a ligação com a psicologia, tal como se apresenta nos estudos (sobre a histeria), sai do caos. Percebo as relações com o conflito, com a vida, tudo o que eu gostaria de chamar de psicologia clínica”.

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