terça-feira, 13 de outubro de 2009

A dificuldade de diálogo entre as escolas de psicologia

Por quê a psicologia tem tanta dificuldade de diálogo interno? Como dizia Winnicott, em carta à Melanie Klein (escrita em 1952 e publicada em seu livro "O Gesto Espontâneo", Editora Martins Fontes), o legado de um autor só será verdadeiro se pessoas independentes, de fora da própria escola de pensamento, puderem ler e redescobrir o pensamento do autor. Porém a grande maioria das pessoas têm dificuldade de ler sem preconceitos um autor. Como dizem os fenomenólogos, para estudar um fenômeno precisamos por entre parênteses nossos próprios conceitos, devemos confrontar-nos com ele sem uso de categorias pré-determinadas. Isto, penso eu, aplica-se também à leitura dos diversos autores de psicologia, que não sejam de sua escola de pensamento. Winnicott foi um dos que conseguiram mostrar esta disposição, ao conseguir dialogar com a escola junguiana, principalmente com Michael Fordham, chefe da escola junguiana na Inglaterra, e seu amigo íntimo. O ilustre psicanalista inglês dizia, em uma carta a seu amigo Fordham (publicada no livro já citado) , que gostava dele porque ele era uma pessoa que aparentava realmente ler os escritos do outro. Winnicott foi além: leu o próprio Jung, criticando-o, mas também ressaltando seus aspectos positivos, como a sua noção de transferência e de ter sido o primeiro psicólogo a ter usado o conceito de self na Psicologia. Winnicott a meu ver foi corajoso, pois a grande maioria dos psicanalistas críticos de Jung parece ter lido o Introdução ao Narcisismo, de Freud, mas não as obras de Jung. Digo isto porque a maioria dos psicanalistas críticos de Jung parece repetir a crítica feita por Freud a Jung nesta obra já citada. Isto mostra o julgamento preconceituoso da obra junguiana pelos psicanalistas, o que para mim é uma grande pena.Como dizia o grande antipsiquiatra existencialista Ronald Laing, no seu livro "Sobre loucos e sãos", conhecer junguianos que haviam lido e incorporado contribuições freudianas ele conhecia, mas do caso contrário - freudianos que haviam lido Jung, ele nunca havia tomado notícia. Neste livro, o próprio Laing relata que lera Jung,. fazendo uma apreciação crítica das contribuições do mesmo, assim como mostra que estava muito a par das contribuições psicanalíticas, mesmo as mais recentes. Por este motivo, acredito que devemos sempre ler os autores fenomenologicamente, para o bem do diálogo interno de nossa Ciência.

2 comentários:

  1. Estou precisando fazer uma m on ografia sobre este tema: Porque psicologos abandonam a profissão? Vcs poderiam me ajudar com artigos, temas blogs ou indicando material? Grato alcides.magalha@i9g.com.br

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  2. Caro mestre Haroldo...acredito ser oportuno suas considerações, visto que a ciência é permeada pela relatividade, pela transitoriedade. Portanto, o bom profissional é aquele que possui humildade suficiente para perceber que nada sabe, e assim, fazer da vida (pessoal e profissional) uma oportunidade permanente de aprendizado...

    Saudações psicanaliticas
    Rui A.Sibilio

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